Papa reúne Igrejas cristãs e pede unidade

Vaticano é sede de encontro histórico com 22 comunidades de cristãos não católicos

ASSIMINA VLAHOU

Especial para o Estado

O entusiasmo a favor da unidade dos cristãos caracterizou a cerimônia de abertura da porta santa que lotou ontem a Basílica de São Paulo, em Roma. O papa João Paulo II, em boas condições físicas e com a voz mais firme, até improvisou, agradecendo aos presentes pelos aplausos e gritos em favor da união: "Nós também podemos sair desta basílica gritando unidade, unidade, como aconteceu na comemoração eucarística de minha viagem à Romênia", disse o pontífice, visivelmente satisfeito.

Em sua homilia, o papa - vestido com solenes roupas douradas - pediu que o Jubileu do Ano 2000 seja a ocasião para dar um impulso ao diálogo ecumênico, pois "dele depende em grande parte o futuro da evangelização". O santo padre afirmou que a semana de oração pela união dos cristãos, iniciada com a cerimônia de ontem, coincidiu com a abertura da última porta santa do jubileu para evidenciar o caráter ecumênico do Ano Santo.


Rito - Pela primeira vez na História, o papa celebrou um rito com a participação de 22 representantes de igrejas e comunidades cristãs não católicas que colaboraram em vários momentos, como na proclamação dos textos e em alguns gestos rituais. Houve orações em inglês, francês e grego.

Entre os representantes não católicos estavam ortodoxos, anglicanos, luteranos, metodistas e enviados do Conselho Ecumênico de Genebra. Entre os ausentes, os reformados - isto é, as igrejas de tradição calvinista, os batistas e os adventistas -, boa parte do mundo protestante.

"A ausência é principalmente para evitar o endosso da idéia da centralidade de Roma e do papa para a fé cristã", comentou o pastor e historiador italiano valdense Paolo Ricca. "Nós não acreditamos que Roma e o papa tenham essa centralidade histórico-teológica, com todo o respeito por sua função. A cerimônia faz pensar que há um reconhecimento recíproco, mas isso não existe; é uma comunhão parcial."


Fraqueza - O papa analisa a divisão como uma fraqueza humana dos cristãos, em parte fruto de culpas de ambos os lados. E disse esperar que neste Ano Santo cada um reconheça a própria responsabilidade nas fraturas, "passo fundamental para prosseguir na recomposição da união", afirmou.

"A divisão é um escândalo para o mundo e contradiz abertamente a vontade de Cristo", declarou o papa em sua homilia. "Se soubermos renovar nossa mente e nosso coração, o diálogo em curso pode superar os limites de uma troca de idéias para se tornar uma troca de dons."

No fim da cerimônia, os monges beneditinos da Basílica de São Paulo ofereceram um almoço para cem convidados. Na mesa com o papa estavam sentados o prelado ortodoxo Athanasios, o primaz anglicano George Carey e o presidente da federação luterana Christian Krause, além de cardeais expoentes da Cúria Romana, como Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o secretário de Estado, Angelo Sodano, e o brasileiro Lucas Moreira Neves, prefeito para a Congregação dos Bispos.

FONTE: O ESTADO DE SP - 19/01/2000

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