Novos Ares Ecumêncos

Será que o Fórum Cristão Global unirá as igrejas?
Por William G. Johnsson
Novos ares sopram em terrenos cristãos, com a capacidade de transformar o movimento ecumênico. Qual deve ser a posição dos adventistas do sétimo dia em relação ao assunto, considerando seu profundo interesse na evolução dos eventos finais?
Nos dias 6 a 9 de novembro de 2007, líderes cristãos representando mais de 70 nações reuniram-se em Limuru, no Quênia. Esse grupo, extremamente diverso, unido sob a chancela do Fórum Cristão Global (FCG), participou de uma reunião sem precedentes, nos tempos modernos. Pela primeira vez, pentecostais e evangélicos reuniram-se com católicos, protestantes e representantes das igrejas instituídas da África. Muitos dos presentes aclamaram a reunião como histórica. Certamente foi um evento único, até o momento.
O encontro em Limuru ocorreu na noite do sexagésimo aniversário do Concílio Mundial das Igrejas (CMI). Muitas mudanças aconteceram no mundo cristão desde 1948, quando o CMI foi criado com a esperança de uni-los:
UNIDOS EM ORAÇÃO: Cultos vibrantes e excelente interação pessoal foram destaque no Fórum Cristão Global em Limuru, Quênia.♦ O centro de gravidade mudou-se para o sul. A Europa e os Estados Unidos não definem mais o ritmo dos acontecimenros. O cristianismo cresce rapidamentos na África e na Ásia, mas está estagnado na região onde nasceu. Hoje em dia, estima-se que a região sul do globo tenha quatro vezes o número de cristãos que há no norte (ou Ocidente). O número de missionários que trabalham no Sul já ultrapassa o número de seu equivalente, no Ocidente.
Indo pouco além dos números, porém, deve-se notar uma mudança ainda mais importante. O cristianismo do “Sul” é mais conservador do que a maioria das igrejas que constituem a representatividade principal do CMI. Atribui mais autoridade às Escrituras; tem uma compreensão mais holística do mundo natural e sobrenatural e dá um valor mais destacado ao Espírito Santo, tanto na doutrina como na experiência pessoal.
♦ O Movimento Evangélico, sem levar em conta as correntes denominacionais, tem se tornado uma força global. Evangélicos, independentemente de denominação, estão unidos na crença da confiabilidade da Bíblia, da obra expiatória de Cristo por Sua morte na cruz, da necessidade da conversão, do evangelismo e da segunda vinda de Cristo. A Aliança Evangélica Mundial conta com 420 milhões de cristãos em sua congregação.
♦ Os pentecostais estão crescendo em ritmo ainda mais frenético. Em sua manifestação moderna, o movimento começou como um fenômeno cristão marginalizado na Los Angeles de 1904. Iniciado como um movimento de reavivamento, que atraía os mais pobres e desprezados pela sociedade, a denominação pentecostal espalhou-se por todo o mundo. Sem estrutura organizacional, centraliza-se na congregação, enfatizando a experiência pessoal com o Espírito Santo. Por ser difícil encontrar uma definição clara do que constitui um pentecostal, as estimativas da força mundial desse movimento variam amplamente; no entanto, observadores em geral concordam que os pentecostais carismáticos já chegam a mais de 500 milhões ao redor do mundo.
♦ No continente africano o cristianismo se expandiu. Muitas igrejas nativas têm se levantado em torno de figuras carismáticas. Algumas dessas igrejas, geralmente conhecidas como Igrejas Africanas Instituídas, têm congregações que vão além das fronteiras nacionais, chegando até mesmo à Europa e América. Oferecendo uma religião de celebração, eles usam os símbolos, a música e a dança que refletem a cultura africana. Provavelmente, 100 milhões de cristãos pertencem às Igrejas Africanas Instituídas.
Essas mudanças permearam amplamente o CMI. Muitos evangélicos se desencantaram por causa da mudança brusca em prol de ações políticas e sociais tomadas pelo CMI, na Assembléia de 1968, em Uppsala, na Suécia. Pentecostais, inicialmente desacreditados pelas igrejas principais, tornaram-se hostis ao movimento ecumênico representado pelo CMI. Finalmente, as novas igrejas africanas e o CMI geralmente encontram poucos pontos em comum.
Hoje em dia, 60 anos após sua fundação, o CMI procura um senso de direção. Seu orçamento e pessoal foram drasticamente reduzidos, se comparados aos de vinte anos atrás. Falhou na tentativa de atrair grupos representando números consideráveis de cristãos. Embora tenham feito esforços fervorosos, os membros de suas igrejas não conseguiram dar o passo mais elementar, que é aceitar um ao outro à mesa de Cristo.
Desde 1948, quando o Concílio Mundial de Igrejas foi formado, grandes mudanças ocorreram no mundo cristão.Com tal história pregressa, o conceito do Fórum Cristão Global(FCG) nasceu em 1998. Rubert van Beck, que serviu ao CMI por vários anos, mesmo aposentado, trabalhou os nove anos seguintes planejando e organizando a reunião que, finalmente, foi realizada em Limuru, em novembro passado. Van Beck foi assessorado por um comitê diretivo, envolvendo várias tradições. Mel Robeck, professor de História da Igreja no Seminário Fuller da Califórnia, e também pentecostal, foi peça-chave, persuadindo muitos líderes pentecostais a participar do FCG.
As idéias do FCG foram, antes de tudo, testadas em reuniões regionais pelo mundo. O comitê de direção concluiu que a única maneira de deixar os pentecostais à vontade para participar seria assegurar-lhes que seriam, junto com os evangélicos, pelo menos 50% dos presentes. E isso ocorreu exatamente assim, em Limuru. Os pentecostais eram o grupo mais representativo e desempenharam papel importante em sessões de plenário e grupos de debate. Os dois artigos de maior relevância apresentados em plenário vieram de acadêmicos pentecostais.
O FCG durou quatro dias em Limuru, a 19 km de Nairóbi, em um resort que pertence ao Concílio Nacional de Igrejas do Quênia. O CMI e seus patrocinadores arcaram com a maior parte das despesas do evento. Muitos daqueles que compareceram tiveram as despesas pagas pelos organizadores. Três adventistas participaram: John Graz, Relações Públicas e Diretor de Liberdade Religiosa da Associação Geral; John Kakembo, Diretor Ministerial da Divisão Centro-Oeste Africana, sediada em Nairóbi, e William G. Johnson, autor deste artigo.
A finalidade declarada do FCG era “criar um espaço aberto onde representantes de um vasto leque de igrejas cristãs e organizações interdenominacionais que confessam o Deus triúno e Jesus Cristo como perfeito em Sua divindade e humanidade, pudessem reunir-se para compartilhar o respeito mútuo e para analisar e debater, em conjunto, desafios comuns”. Ao contrário de reuniões ecumênicas do passado, das quais participei, no FCG, o elemento afetivo (emocional) desempenhou uma parte significativa. Os cultos de adoração, com exceção dos conduzidos pela Igreja Ortodoxa, eram bem animados. Os africanos deram um sabor todo especial ao encontro.
Para muitos, o ponto alto ocorreu no primeiro dia. Todos os participantes entraram em grupos de 30, pré-selecionados, e pessoa por pessoa gastou cerca de 15 minutos relatando seu testemunho pessoal na jornada com Jesus Cristo. O elemento comum do chamado e intervenção divina, independente da tradição, era poderoso e emocionante. Nesses grupos, as barreiras denominacionais vieram abaixo, resultando num clima de boa vontade entre todos, nos dias que se seguiram.
O FCG gastou seu último dia e meio avaliando o que foi debatido e tentando determinar o padrão e direção a serem seguidos. Os participantes expressaram muita gratidão pelo evento, que foi considerado um avanço, e pediram para que as estruturas fossem reduzidas ao mínimo. O FCG quer evitar tornar-se uma nova organização, e o processo continuará em níveis regionais e locais. O comitê que planejou o FCG será reformulado e ampliado para dirigir o processo. Os desdobramentos futuros determinarão se acontecerá outra reunião global.
AMPLA REPRESENTAÇÃO: Os representantes do Fórum Cristão Global incluíam delegados do Exército da Salvação, Assembléia de Deus, Igreja Ortodoxa da América, Concílio Mundial de Igrejas, Concílio Pontífice para a Promoção da Unidade Cristã e Associação de Comunicadores Cristãos.A maioria dos participantes em Limuru saiu entusiasmada. Todos se sentiram parte de algo especial, se não histórico. Será o FCG visto como o divisor de águas, onde o CMI e o velho ecumenismo acabaram, e onde nasceu um novo e imprevisível ecumenismo? Só o tempo dirá.
A maneira com que os adventistas deverão se relacionar com essa mudança de ares deve ser determinada com cautela. Nunca fomos membros do CMI e sempre mantivemos distância da organização abraçada pelo ecumenismo. Para nós, o senso da missão para todo o mundo, divinamente ordenada, não pode ser enfraquecido ou comprometido pela ligação orgânica com outras organizações cristãs.
Não somos juízes. Simplesmente colocamos o foco em nossa missão e deixamos que outros respondam ao Senhor pelo seu chamado.
Também desejamos a unidade de todos os crentes, conforme orou o nosso Senhor, um pouco antes de morrer na cruz. Mas unidade com base em quê? E a que preço? Para nós, a unidade cristã só pode vir por crenças compartilhadas, baseadas na Bíblia.
Nossa compreensão histórico-profética faz com que desconfiemos das coligações cristãs. Muitas vezes, o resultado tem sido coação de consciência, e Apocalipse 13 adverte que tal fato aconteceria pouco antes da volta de Cristo.
Aplaudimos homens e mulheres de boa conduta em qualquer lugar. Por 80 anos, a política de trabalho da nossa igreja tem sido: “Reconhecemos as organizações que exaltam a Cristo perante os homens como parte do plano divino de evangelização do mundo, e temos em alta estima homens e mulheres cristãos, de outras denominações, que estão comprometidos em ganhar almas para Cristo.” Participamos de debates teológicos com outras igrejas, procurando compreender e ser compreendidos. Onde seja possível, unimo-nos em movimentos como liberdade religiosa e ajuda aos necessitados, assim como Ellen White fez, em seus dias, juntando-se a outras denominações na luta contra o tráfico de álcool.
Adoramos, alegremente, com outros cristãos, orando por eles e com eles, incluindo seus ministros. Nesse aspecto, os adventistas estão bem à frente das igrejas do CMI: nós abrimos a mesa do Senhor a todos os que se apresentam perante Ele, independente da denominação. Esse é o tipo de ecumenismo – e apenas esse – do qual nos sentimos livres para participar.
William G. Johnsson é assistente do presidente nas relações interdenominacionais para os Adventistas do Sétimo Dia.
http://portuguese.adventistworld.org/article.php?id=307
2008-09-06

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